domingo, 6 de dezembro de 2020

De Andrade para Costa Leme: um pulo!

Por um ano fiquei "travado" na parte dos Andrade de minha ascendência. Já escrevi sobre os Andrade mineiros de Ouro Fino e Caldas que migraram para cidades da vizinha província de São Paulo Genealogia e trajetória da família Andrade (1752-1902), porém, não conseguia descobrir a ascendência do primeiro desses Andrade: Joze Manoel de Andrade (1752-1809). Apesar dos filhos de Joze Manoel e sua esposa Brizida Ferreira de Mello serem batizados na Igreja Matriz de São Francisco de Paula do Oiro Fino ao longo da década de 1790, identifiquei outros filhos nascidos na década anterior, a exemplo da filha Anna, que faleceu em 3 de abril de 1800 na idade de "13 para 14 anos", e, portanto, nascida por volta de 1786. Infelizmente o primeiro livro de matrimônio e de batizados de Ouro Fino não existe mais. Cheguei a enviar um e-mail para a paróquia de São Francisco de Paula e a resposta dada foi que o livro não existe. 

A primeira igreja de Ouro Fino foi levantada entre 1749 e 1752 e enquanto o primeiro livro de batizados é datado a partir de 1790, o de matrimônios abrange um período de 1777 à 1785 e depois desde 1809 sem interrupções. Foi no livro de 1777-1785 que encontrei o casamento de três irmãs de Brizida com informações até dos avós, o que me auxiliou a descobrir a ascendência de Brizida - e também a descobrir um título perdido da obra de Pedro Taques. Em um desses casamentos, Joze Manoel de Andrade figurava como testemunha. Porém, nenhum documento apresentava a sua naturalidade e filiação...

Após um ano "parado" com os Andrade, fiz uma sondagem nos processos de dispensa matrimoniais da diocese de Pouso Alegre: a paróquia de São Francisco de Paula do Oiro Fino pertencia a diocese de Pouso Alegre. Eis que lá encontro a referência ao processo de dispensa matrimonial de Joze Manoel de Andrade e Brizida Ferreira de Mello no ano de 1774. Com essa nova fonte, novas informações emergiram: além dos dados de Brizida - que já conhecia - apareceram as informações sobre a naturalidade e a filiação de Joze Manoel: natural e batizado em "Mogi Guassu", filho de Francisco da Costa Leme e Roza Silveira do Prado! O processo feito na freguesia de Ouro Fino, indicava por meio das testemunhas que não havia impedimento algum para o casamento. Fora essas informações, o documento está bastante danificado.

Fui pesquisar primeiramente no livro de matrimônios de Mogi Guaçu, lendo a versão datilografada (cópia feita na década de 1970). Nesse livro encontrei em 26 de novembro de 1739 o casamento de Francisco Leme da Costa e Sara Ribeira "(ou Clara)". O registro estava com alguns pontilhados, indicando que a página deveria estar danificada e impedindo a sua leitura, assim como a grafia poderia ser um pouco de difícil compreensão, já que o copista ao escrever Sara indicou a possibilidade do nome ser outro similar. Deixei o registro separado, uma vez que foi o nome que mais se aproximou de quem estava procurando: enquanto eu procurava um Francisco da Costa Leme, este era Francisco Leme da Costa. Este registro ainda complementava as filiações e naturalidades: o Francisco era natural de "minas do Goiás" e filho de Manoel da Costa Leme; a "Sara" era natural de São Paulo e filha de Manoel João Ribeiro e Teresa de Jesus". No livro todo era o único com o sobrenome composto que procurava (mesmo que com a ordem invertida).

Busquei por essa família no Maço de População de Mogi Guaçu, mas não encontrei... busquei no Maço de População da vizinha Mogi Mirim no ano de 1767 e encontrei o tal Francisco da Costa Leme com uma esposa Roza e filhos... dentre eles um adolescente de nome Joze (nada mais e nada menos do que o Joze Manoel de Andrade) e este Francisco sim, com o sobrenome na ordem correta que eu procurava, além de uma esposa de nome Roza! O Family Search auxiliou indicando uma família "da Costa Leme" em Mogi Mirim nos registros indexados por voluntários. Os batizados - feitos em Mogi Mirim - de 1753 até 1761 apresentaram nomes de filhos que apareciam no Maço de 1767, bem como as idades correspondentes, o que acabou por confirmar a identidade dessa família e comprovar que eles eram os antepassados que eu procurava.

Outros dois documentos ajudaram nessa comprovação - tão importante para mim: os batizados de Gonçalo e Vicente, filhos de Francisco da Costa Leme e Roza Ribeyra. Esses dois batizados são importantes, pois registravam as naturalidades dos pais, bem como o nome e naturalidade dos avós. Enquanto Francisco da Costa Leme era natural da vila de Pitanguy (atual Pitangui - MG) e era filho do taubateano Manoel da Costa Leme e Anna de Torres (de Mogi das Cruzes), a Roza Ribeyra (ou, Ribeira!) era natural de Piedade, bispado de São Paulo e filha de Manoel João Ribeiro (de Mogi das Cruzes) e Thereza de Jesus (de Jacareí). Os nomes dos pais de Francisco e Roza permitiram identificar que a tal Sara casada com o Francisco de sobrenome invertido em Mogi Guaçu em 1739 era na verdade Roza Ribeyra. Acredito que devido o livro estar danificado e grafias quase incompreensíveis, o copista que transcreveu no livro na década de 1970 acabou por ler "Roza" como "Sara (ou Clara)". Não restou dúvida alguma de a Sara era na verdade Roza. Todos os demais dados  (pais, marido, sogros e respectivas naturaldiades) confirmavam a sua identidade da Roza-Sara.

E mais um documento ajudou a terminar essa parte do quebra-cabeça: a informação inicial era de uma Roza Silveira do Prado, enquanto que eu estava com uma Roza Ribeyra. Todavia, o batizado de uma neta de Francisco e Roza desfez essa pequena confusão nos sobrenomes. No Maço de População de Mogi Mirim de 1767, além da família de Francisco da Costa Leme, encontrei registrada a família de Antonio da Costa Leme. Sobrenome interessante: anotei. Teria algum parentesco? Esse Antonio tinha 25 anos, vivia de suas lavouras, estava casado com Catharina Portes (então com 15 anos) e tinha dois filhos, Joze e Maria, ainda bebês. No livro de batizado de Mogi Mirim, no mesmo em que encontrei de 1753 até 1761 os filhos de Francisco da Costa Leme e Roza Ribeyra, encontrei em 3 de março de 1765 o batizado da bebezinha Maria, a filha de Antonio e Catharina que também aparecia no Maço de População. A mãe Catharina Portes era natural de Mogi Guaçu e era filha de Manuel Fernandes Preto (natural de Mogi das Cruzes) e Jozepha de Almeyda (natural de Sorocaba) - obs, o sobrenome Portes vem de uma avó, também chamada Catharina Portes del-Rei; e o pai da pequena Maria, o Antonio da Costa Leme, também natural de Mogi Guaçu e filho de Francisco da Costa Leme (natural de Pitangui) e Roza Ribeiro do Prado (natural de Piedade).

No batizado dessa Maria, Roza - a avó paterna da menina - apareceu pela segunda vez (para mim) com o sobrenome Prado. A segunda vez? Sim! No processo de dispensa matrimonial de Joze Manoel de Andrade em 1774, constava a mãe como "Roza Silveira do Prado", nome este que foi lido e interpretado da grafia que constava no documento. Não resta dúvida que aquele "Silveira" esgarranchado no processo era na verdade Ribeira, e que, a primeira vista, foi lida e entendida como Silveira... e eis que o genealogista também deve possuir bons conhecimentos sobre paleografia para compreender na "íntegra" esses registros antigos e ler corretamente a grafia evitando essas pequenas confusões.

Ainda ressalto que, casados em Mogi Guaçu, os primeiros filhos de Francisco e Roza nasceram e foram batizados lá mesmo, como é o caso dos filhos Antonio da Costa Leme e Joze Manoel de Andrade, e os demais filhos nascidos a partir de 1753 foram batizados na vizinha Mogi Mirim, para onde a família provavelmente passou a residir - e onde foi "recenseada" em 1767.

Um detalhe que ainda merece - e muito - ser compartilhado: há mais de um ano eu já havia pesquisado o livro de matrimônios de Mogi Guaçu, e já havia passado pelo casamento de Francisco e de "Sara" (Roza!). Na época, um dos sobrenomes que eu procurava era justamente o "Andrade" (qualquer nome que pudesse ser relacionado com Joze Manoel de Andrade). Costume da época: filhos que herdavam nomes de avós, padrinhos, ... ainda resta saber, de onde vem o Andrade que Joze Manoel passou a usar? Pais e avós já foram descobertos e em breve será possível rastrear a origem do Andrade. Por hora, é preciso avançar na árvore dos Costa Leme e dos Ribeiro do Prado.


* Atualização 30/01/2021: descobri que parte desta família é citada na obra Genealogia Paulista de Silva Leme.

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Eis a família:

Manoel da Costa Leme, natural de Taubaté, casado com Ana de Torres Alvarenga e "moradores que foram na Vila de Pitangui", são pais de Francisco da Costa Leme. Obs: Anna de Torres é assim mencionada nos batizados dos netos Gonçalo e Vicente (filhos de Francisco da Costa Leme com Roza Ribeyra do Prado) e Anna de Torres Alvarenga no Genealogia Paulistana. Anna é natural de Mogi das Cruzes, onde inclusive há uma família Torres de Alvarenga, mas ainda não descobri conexões.

Manoel João Ribeiro, natural de Mogi das Cruzes, casado com Thereza de Jesus, natural de Jacareí, são os pais de Roza Ribeyra do Prado.

Francisco da Costa Leme, nascido em Pitangui em 1720 (aprox.) casado em Mogi Guaçu aos 26 de novembro de 1739 com Roza Ribeyra do Prado (natural de Piedade - possivelmente Lorena) são os pais de:

1. Antonio da Costa Leme, n. Mogi Guaçu em 1742, casado com Catharina Portes e pai de Joze e Maria, sendo esta batizada em Mogi Mirim em 3 de março de 1765).

2. Anna do Prado de Quebedos, n. Mogi Guaçu em 1744 (aprox.), casada com Domingos Pires, filho de Paulo Pires Barbosa e de Anna Fernandes. Citados no Genealogia Paulistana. Filhos: Francisco, batizado em Mogi Mirim em 23 de dezembro de 1763, João Batista Pires (aprox. 1770) casado em Mogi Mirim por 1792 com Eufrazia Maria de Siqueira, e Domingos da Rocha Barbosa (aprox. 1771) casado em Mogi Mirim por 1789 com Maria de Sousa Leme.

3. João Leme, n. Mogi Guaçu em 1747 (aprox.).

4. Maria, n. Mogi Guaçu em 1750 (aprox.).

5. Joze Manoel de Andrade, n. Mogi Guaçu em 1751 (aprox.) casado em Ouro Fino no ano de 1774 com Brizida Ferreira de Mello... cuja descendência já registrei em uma postagem - ver o primeiro link desse texto sobre os Andrade).

6. Isabel, batizada em Mogi Mirim em 24 de fevereiro de 1753.

7. Barbara, batizada em Mogi Mirim em 15 de outubro de 1754.

8. Francisco da Costa Leme, batizado em Mogi Mirim em 8 de setembro de 1756, casado com Rosa Rodrigues do Prado e pai de ao menos um filhos: Miguel, batizado em Mogi Mirim em 25 de outubro de 1797.

9. Gonçalo, nascido em Mogi Mirim em 18 de março de 1759 e sendo batizado no dia 15 seguinte.

10. Vicente, nascido em Mogi Mirim em 15 de fevereiro de 1761 e sendo batizado no dia 18 seguinte. 

11. Ignacio Francisco de Alvarenga, aprox 1764 em Mogi Mirim, onde se casou em 1786 com Ignacia Maria de Siqueira, citados no Genealogia Paulistana. Essa Ignacia Maria de Siqueira é irmã de Eufrazia Maria de Siqueira, mencionada acima como esposa de João Batista Pires, filho de Anna de Quebedos (irmã mais velha de Ignacio Francisco de Alvarenga).

Todos os registros utilizados nessa pesquisa genealógica, como Maços de População, matrimônios e batizados, foram transcritos e anexados na árvore do Family Search e estão disponíveis para consulta. No Genealogia Paulista ver, p. 377 do volume II: http://www.arvore.net.br/Paulistana/Lemes_4.htm 

Pesquisa de Samuel Cassiano - historiador.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Sinhá Traficante

Tereza de Jesus Maria, sinhá e traficante na Bahia setecentista... entre 1745 (quando ficou viúva do traficante português Manoel Fernandes da Costa) até 1751 administrou os negócios da família: era a proprietária de dois navios que possuíam licença do rei de Portugal para participar do tráfico negreiro.

Em 6 anos em que foi a administradora, foram empreendidas 6 viagens de seus navios pelo trajeto Costa da Mina-Bahia, quase uma por ano.

Sob os auspícios da sinhazinha Teresa
de Jesus, nesses seis anos foram embarcados na Costa da Mina, na África 2488
pessoas negras, das quais, 307 morreram durante a travessia. Os sobreviventes
que desembarcaram abasteceram o mercado baiano de escravos. (datas das viagens
e números relativos aos embarcados e desembarcados: https://www.slavevoyages.org/voyage/database )

Das 339 pessoas que desembarcaram na Bahia em junho de 1746 (primeira travessia dos navios sob direção da sinhá-traficante), Tereza de Jesus levou em 7 de agosto três para serem batizados na Igreja da Conceição da Praia, todos adultos e da "Costa da Mina" (batismo no Family Search: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:9392-8L9T-P7?i=106&wc=M7ZB-R6D%3A369568701%2C370114901%2C370270101&cc=2177272 )

Em junho de 1751, na relação de empresas que poderiam realizar o comércio de escravos na rota Costa da Mina-Bahia, dos 23 traficantes, apenas Teodozio Rodrigues e Tereza de Jesus obtiveram a permissão para armar dois navios. Depois dessa data o nome de Tereza de Jesus deixa de constar nos documentos, que passam a citar Manoel Fernandes da Costa (o filho). Uma filha Luiza Tereza de Sant'Anna foi casada com João Lopes Fiúza de Barretto, cuja família também era traficante de escravos.


Outras fontes sobre Tereza de Jesus Maria:

Souza, Cândido Eugênio Domingues de S729 “Perseguidores da espécie humana”: capitães negreiros da Cidade da Bahia na primeira metade do século XVIII / Cândido Eugênio Domingues de Souza. – Salvador, 2011. https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/11115/1/%e2%80%9cPerseguidores%20da%20esp%c3%a9cie%20humana%e2%80%9d%2c%20UFBA%202011.pdf

RIBEIRO, Alexandre Vieira. O tráfico atlântico de escravos e a praça mercantil de Salvador (c. 1678 – c. 1830) / Alexandre Vieira Ribeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, PPGHIS, 2005.  http://objdig.ufrj.br/34/teses/656976.pdf

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Os vários Mafra - mas nem tanto: Francisca Mafra de Jesus.

Pesquisando a família Mafra de Minas Gerais, havia identificado duas famílias distantes. Uma delas, parcialmente pesquisada: a de Paulo Francisco Mafra, na região de Lavras e que se multiplicou em vários descendentes pelo sul de MG e cidades de SP. Alguns dados já haviam sido pesquisados por outros genealogistas e estavam em sites. Descobri vários outros descendentes e fui acrescentando na árvore do Family Search. Enquanto pesquisava os microfilmes de Caldas, separei todos as pessoas de sobrenome Mafra que encontrava e ia estabelecendo conexões entre os demais. Uma não se encaixava: Francisca Mafra de Jesus.

Francisca era casada com Joaquim Domingues do Prado e seu nome aparecia nos livros de batizados e de óbitos de Caldas, tendo inclusive uma morte bem triste. Pela idade ao falecer em 1826 (com "trinta anos, pouco mais ou menos"), estimei que o ano do seu nascimento fosse 1795. Nenhum dos dados indicava sua filiação ou naturalidade. Também não constava ter sido casada em Caldas. No batizado do filho Joaquim em 1815, veio a pista: o padrinho foi Joze Domingues do Prado (um irmão, primo, parente? ...). Esse Joze, bem como duas irmãs, eram filhos de Joze Domingues do Prado e Angela Moreira de Jesus, ambos naturais de Santana do Sapucaí (atual Silvanópolis) e que encontrei casando em Caldas entre 1812 e 1824. Fui pesquisar os registros de Santana do Sapucaí, imaginando que pudesse encontrar algo sobre Joaquim Domingues do Prado e sua esposa Mafra - que era o que me interessava.

A pista e o provável parentesco entre Joaquim e o padrinho Joze foram positivas: encontrei o registro de casamento de Joaquim e Francisca em Santana do Sapucaí. A partir desse registro identifiquei que Joaquim era irmão do Joze (o padrinho), sendo mais um dos muitos filhos de Joze Domingues do Prado e Angela Moreira de Jesus. O casamento foi celebrado na Igreja Matriz de Santana do Sapucaí em 27 de outubro de 1805. Porém, quando comecei a ler os dados da esposa, eis a surpresa: Francisca Mafra de Jesus havia sido exposta em casa de um tal João Rodrigues de Sequeira. Natural de Lavras do Funil, onde residiam os vários Mafra descendentes de Paulo Francisco Mafra, Francisca Mafra de Jesus não tinha parentesco algum (ao menos pelo que está documentado até agora) com a família Mafra. Quando for encontrado o batismo dela, talvez seja possível ver os padrinhos. Talvez tenha adotado o "Mafra" por apadrinhamento? Suposições... apenas o batismo de Francisca pode trazer novas informações.

Francisca Mafra de Jesus n. aproximadamente 1795, em Lavras do Funil, filha de pais incógnitos. Casou-se ainda muito jovem em Santana do Sapucaí em 27/10/1805 com Joaquim Domingues do Prado, natural de Santana do Sapucaí, filho de Joze Domingues do Prado e Angela Moreira de Jesus. Francisca faleceu em 5 de fevereiro de 1826, sem receber os sacramentos, pois a morte foi repentina: durante o parto. Filhos:

1. Maria, n. aproximadamente 1813, f. com 15 anos em 8 de abril de 1829, no bairro do Rio Pardo, de "moléstia interior", sendo sepultada no adro da Igreja Matriz de Caldas. Não encontrei o batismo dela em Caldas entre 1812 e 1815, é possível que tenha sido batizada em Santana do Sapucaí.

2. Joaquim, batizado na Matriz de Caldas em 19 de fevereiro de 1815, sendo o padrinho um tio paterno.

3. Manoel, nascido em 10 de novembro de 1821 e falecido 16 dias depois, em 26 de novembro de 1821, provavelmente antes de ser batizado, pois não localizei o batismo dele nos registros de Caldas. O óbito está registrado nos livros de Caldas.

4. Manoel, nasceu e faleceu em 5 de fevereiro de 1826, sendo que a mãe acabou por falecer durante o parto.

Descobri que Francisca Mafra de Jesus - que pensei que fosse uma antepassada - não é minha parente. Mesmo assim, foi interessante conhecer um pouco da história dela e de sua família.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

O Coronel Sebastião de Freitas

Homônimos que foram contemporâneos e viveram em localidades próximas acabam causando bastante confusão em nossas pesquisas se não tomarmos muito cuidado para ler e interpretar as fontes disponíveis. É o caso dos "Salvadores" Moreira de Castilho que citei anteriormente e é o caso de dois Sebastião de Freitas, ambos moradores no Brasil Colônia do século XVII (e, talvez, primos).

Começamos por outro Sebastião de Freitas: o cristão-novo. Natural do Algarve, Portugal, nasceu por volta de 1565 e faleceu no Brasil por volta de 1644. Casado com Maria Pedrosa, foram pais de vários filhos. Um dos filhos foi Antonio Pedroso de Freitas (1600-1672), casado com Clara Parenta (1615-1654). Antonio Pedro de Freitas e Clara Parente tiveram um filho chamado Sebastião de Freitas, mesmo nome do avô paterno.

Após um parto mal sucedido, Clara Parenta fez seu testamento:

Na paragem chamada Juqueri, termo da vila de São Paulo, eu, Clara Parenta, em cama, parida de um menino que Deus foi servido levar para si, faço este meu testamento. (...) Declaro que sou casada com An.to de Freitas de que tive muitos filhos dos quais hoje são vivos os seguintes - M.ª Pedroza a qual esta casada com An.to Pereira de Avelar ao qual e lhe tem dado seu dote só lhe falta a escritura das casas que se lhe fará - Violante - outra M.ª - Fr.ca - Pedro - Bastião - João - Jose - Mathias - os quais são meus legitimos herdeiros nos meus bens que se acharem.

No testamento ainda é dada a idade dos filhos, sendo o "Bastião" (Sebastião) de idade de 9 anos. Isso em 4 de agosto de 1654. Portanto, esse Sebastião teria nascido em 1645. Anos mais tarde, em 1681, o mesmo Sebastião é testemunha em um processo de dispensa matrimonial, onde afirma ter trinta e três anos de idade "pouco mais ou menos", o que faria com que o ano de seu nascimento fosse 1648 (ou, ao redor disso). Sabemos o provável ano do nascimento desse Sebastião a partir do seu batismo, que ocorreu em junho de 1650, em São Paulo. Na incerteza do ano exato do nascimento, o fato é que na década de 1650, "Bastião" era criança. Sabe-se que foi casado e teve um filho de nome João de Freitas que se casou em Santana do Parnaíba em 1693 com sua parente Escolástica Ribeiro, filha de Francisco Bicudo de Brito.

Passamos agora ou outro Sebastião de Freitas, que era um pouco mais velho do que o filho de Clara Parenta. Este nasceu por volta de 1627 e faleceu na década de 1690. Exerceu cargos de mando em Taubaté, inclusive o de Coronel. Em 1650 ele já estava casado com Maria Fragoso (Maria Fragosa), pois nesta mesma década nascem os primeiros filhos. Maria Fragosa faleceu em 1687, ano do seu testamento e inventário. Constam como filhos: Sebastião de Freitas Cardoso, Maria Fragoso, Izabel Fragoso (viúva em 1687 - foi casada com José Moreira de Castilho, falecido em 1684), Marina Fragoso, Ana Ribeiro (ou Ferreira), Gaspar Fragoso, Jerônimo Ferreira de Melo, Cosme Ferreira de Melo e Balhtazar Fragoso.

Alguns genealogistas indicam que o Coronel Sebastião de Freitas, que também foi juiz em Taubaté, pode vir a ser neto do Capitão Sebastião de Freitas (o cristão-novo), mas não há fontes que possa comprovar essa ligação. Outros confundem o taubateano com o filho de Clara Parente. 

Mas, é impossível serem a mesma pessoa:
O primeiro problema é: o pai seria contemporâneo dos próprios filhos. Isto é, o Sebastião filho de Clara era criança na década de 1650, quando nasciam as crianças do Sebastião de Freitas...
Depois, Clara menciona em seu testamento em 1654 um único filho de nome Sebastião. E, na impossibilidade de uma criança se tornar pai ao mesmo tempo, fica provado que o Sebastião que foi coronel não é filho de Clara...
Ainda, no testamento de Maria Fragosa em 1687, ao mencionar os filhos com o coronel Sebastião de Freitas, não há menção a nenhum João de Freitas, que foi casado em 1693 com uma parente e era filho de um Sebastião de Freitas, e este sim, filho da Clara...

Confuso?
Um pouco.

Mas as fontes que temos permitem identificar dois Sebastião de Freitas, contemporâneos, embora um fosse um pouco mais velho que o outro. O mais novo deles, neto paterno do cristão-novo de mesmo nome. Já o coronel taubateano ainda permanece com a ascendência desconhecida.