Homônimos que foram contemporâneos e viveram em localidades próximas acabam causando bastante confusão em nossas pesquisas se não tomarmos muito cuidado para ler e interpretar as fontes disponíveis. É o caso dos "Salvadores" Moreira de Castilho que citei anteriormente e é o caso de dois Sebastião de Freitas, ambos moradores no Brasil Colônia do século XVII (e, talvez, primos).
Começamos por outro Sebastião de Freitas: o cristão-novo. Natural do Algarve, Portugal, nasceu por volta de 1565 e faleceu no Brasil por volta de 1644. Casado com Maria Pedrosa, foram pais de vários filhos. Um dos filhos foi Antonio Pedroso de Freitas (1600-1672), casado com Clara Parenta (1615-1654). Antonio Pedro de Freitas e Clara Parente tiveram um filho chamado Sebastião de Freitas, mesmo nome do avô paterno.
Após um parto mal sucedido, Clara Parenta fez seu testamento:
Na paragem chamada Juqueri, termo da vila de São Paulo, eu, Clara Parenta, em cama, parida de um menino que Deus foi servido levar para si, faço este meu testamento. (...) Declaro que sou casada com An.to de Freitas de que tive muitos filhos dos quais hoje são vivos os seguintes - M.ª Pedroza a qual esta casada com An.to Pereira de Avelar ao qual e lhe tem dado seu dote só lhe falta a escritura das casas que se lhe fará - Violante - outra M.ª - Fr.ca - Pedro - Bastião - João - Jose - Mathias - os quais são meus legitimos herdeiros nos meus bens que se acharem.
No testamento ainda é dada a idade dos filhos, sendo o "Bastião" (Sebastião) de idade de 9 anos. Isso em 4 de agosto de 1654. Portanto, esse Sebastião teria nascido em 1645. Anos mais tarde, em 1681, o mesmo Sebastião é testemunha em um processo de dispensa matrimonial, onde afirma ter trinta e três anos de idade "pouco mais ou menos", o que faria com que o ano de seu nascimento fosse 1648 (ou, ao redor disso). Sabemos o provável ano do nascimento desse Sebastião a partir do seu batismo, que ocorreu em junho de 1650, em São Paulo. Na incerteza do ano exato do nascimento, o fato é que na década de 1650, "Bastião" era criança. Sabe-se que foi casado e teve um filho de nome João de Freitas que se casou em Santana do Parnaíba em 1693 com sua parente Escolástica Ribeiro, filha de Francisco Bicudo de Brito.
Passamos agora ou outro Sebastião de Freitas, que era um pouco mais velho do que o filho de Clara Parenta. Este nasceu por volta de 1627 e faleceu na década de 1690. Exerceu cargos de mando em Taubaté, inclusive o de Coronel. Em 1650 ele já estava casado com Maria Fragoso (Maria Fragosa), pois nesta mesma década nascem os primeiros filhos. Maria Fragosa faleceu em 1687, ano do seu testamento e inventário. Constam como filhos: Sebastião de Freitas Cardoso, Maria Fragoso, Izabel Fragoso (viúva em 1687 - foi casada com José Moreira de Castilho, falecido em 1684), Marina Fragoso, Ana Ribeiro (ou Ferreira), Gaspar Fragoso, Jerônimo Ferreira de Melo, Cosme Ferreira de Melo e Balhtazar Fragoso.
Alguns genealogistas indicam que o Coronel Sebastião de Freitas, que também foi juiz em Taubaté, pode vir a ser neto do Capitão Sebastião de Freitas (o cristão-novo), mas não há fontes que possa comprovar essa ligação. Outros confundem o taubateano com o filho de Clara Parente.
Mas, é impossível serem a mesma pessoa:
O primeiro problema é: o pai seria contemporâneo dos próprios filhos. Isto é, o Sebastião filho de Clara era criança na década de 1650, quando nasciam as crianças do Sebastião de Freitas...
Depois, Clara menciona em seu testamento em 1654 um único filho de nome Sebastião. E, na impossibilidade de uma criança se tornar pai ao mesmo tempo, fica provado que o Sebastião que foi coronel não é filho de Clara...
Ainda, no testamento de Maria Fragosa em 1687, ao mencionar os filhos com o coronel Sebastião de Freitas, não há menção a nenhum João de Freitas, que foi casado em 1693 com uma parente e era filho de um Sebastião de Freitas, e este sim, filho da Clara...
Confuso?
Um pouco.
Mas as fontes que temos permitem identificar dois Sebastião de Freitas, contemporâneos, embora um fosse um pouco mais velho que o outro. O mais novo deles, neto paterno do cristão-novo de mesmo nome. Já o coronel taubateano ainda permanece com a ascendência desconhecida.