Por um ano fiquei "travado" na parte dos Andrade de minha ascendência. Já escrevi sobre os Andrade mineiros de Ouro Fino e Caldas que migraram para cidades da vizinha província de São Paulo Genealogia e trajetória da família Andrade (1752-1902), porém, não conseguia descobrir a ascendência do primeiro desses Andrade: Joze Manoel de Andrade (1752-1809). Apesar dos filhos de Joze Manoel e sua esposa Brizida Ferreira de Mello serem batizados na Igreja Matriz de São Francisco de Paula do Oiro Fino ao longo da década de 1790, identifiquei outros filhos nascidos na década anterior, a exemplo da filha Anna, que faleceu em 3 de abril de 1800 na idade de "13 para 14 anos", e, portanto, nascida por volta de 1786. Infelizmente o primeiro livro de matrimônio e de batizados de Ouro Fino não existe mais. Cheguei a enviar um e-mail para a paróquia de São Francisco de Paula e a resposta dada foi que o livro não existe.
A primeira igreja de Ouro Fino foi levantada entre 1749 e 1752 e enquanto o primeiro livro de batizados é datado a partir de 1790, o de matrimônios abrange um período de 1777 à 1785 e depois desde 1809 sem interrupções. Foi no livro de 1777-1785 que encontrei o casamento de três irmãs de Brizida com informações até dos avós, o que me auxiliou a descobrir a ascendência de Brizida - e também a descobrir um título perdido da obra de Pedro Taques. Em um desses casamentos, Joze Manoel de Andrade figurava como testemunha. Porém, nenhum documento apresentava a sua naturalidade e filiação...
Após um ano "parado" com os Andrade, fiz uma sondagem nos processos de dispensa matrimoniais da diocese de Pouso Alegre: a paróquia de São Francisco de Paula do Oiro Fino pertencia a diocese de Pouso Alegre. Eis que lá encontro a referência ao processo de dispensa matrimonial de Joze Manoel de Andrade e Brizida Ferreira de Mello no ano de 1774. Com essa nova fonte, novas informações emergiram: além dos dados de Brizida - que já conhecia - apareceram as informações sobre a naturalidade e a filiação de Joze Manoel: natural e batizado em "Mogi Guassu", filho de Francisco da Costa Leme e Roza Silveira do Prado! O processo feito na freguesia de Ouro Fino, indicava por meio das testemunhas que não havia impedimento algum para o casamento. Fora essas informações, o documento está bastante danificado.
Fui pesquisar primeiramente no livro de matrimônios de Mogi Guaçu, lendo a versão datilografada (cópia feita na década de 1970). Nesse livro encontrei em 26 de novembro de 1739 o casamento de Francisco Leme da Costa e Sara Ribeira "(ou Clara)". O registro estava com alguns pontilhados, indicando que a página deveria estar danificada e impedindo a sua leitura, assim como a grafia poderia ser um pouco de difícil compreensão, já que o copista ao escrever Sara indicou a possibilidade do nome ser outro similar. Deixei o registro separado, uma vez que foi o nome que mais se aproximou de quem estava procurando: enquanto eu procurava um Francisco da Costa Leme, este era Francisco Leme da Costa. Este registro ainda complementava as filiações e naturalidades: o Francisco era natural de "minas do Goiás" e filho de Manoel da Costa Leme; a "Sara" era natural de São Paulo e filha de Manoel João Ribeiro e Teresa de Jesus". No livro todo era o único com o sobrenome composto que procurava (mesmo que com a ordem invertida).
Busquei por essa família no Maço de População de Mogi Guaçu, mas não encontrei... busquei no Maço de População da vizinha Mogi Mirim no ano de 1767 e encontrei o tal Francisco da Costa Leme com uma esposa Roza e filhos... dentre eles um adolescente de nome Joze (nada mais e nada menos do que o Joze Manoel de Andrade) e este Francisco sim, com o sobrenome na ordem correta que eu procurava, além de uma esposa de nome Roza! O Family Search auxiliou indicando uma família "da Costa Leme" em Mogi Mirim nos registros indexados por voluntários. Os batizados - feitos em Mogi Mirim - de 1753 até 1761 apresentaram nomes de filhos que apareciam no Maço de 1767, bem como as idades correspondentes, o que acabou por confirmar a identidade dessa família e comprovar que eles eram os antepassados que eu procurava.
Outros dois documentos ajudaram nessa comprovação - tão importante para mim: os batizados de Gonçalo e Vicente, filhos de Francisco da Costa Leme e Roza Ribeyra. Esses dois batizados são importantes, pois registravam as naturalidades dos pais, bem como o nome e naturalidade dos avós. Enquanto Francisco da Costa Leme era natural da vila de Pitanguy (atual Pitangui - MG) e era filho do taubateano Manoel da Costa Leme e Anna de Torres (de Mogi das Cruzes), a Roza Ribeyra (ou, Ribeira!) era natural de Piedade, bispado de São Paulo e filha de Manoel João Ribeiro (de Mogi das Cruzes) e Thereza de Jesus (de Jacareí). Os nomes dos pais de Francisco e Roza permitiram identificar que a tal Sara casada com o Francisco de sobrenome invertido em Mogi Guaçu em 1739 era na verdade Roza Ribeyra. Acredito que devido o livro estar danificado e grafias quase incompreensíveis, o copista que transcreveu no livro na década de 1970 acabou por ler "Roza" como "Sara (ou Clara)". Não restou dúvida alguma de a Sara era na verdade Roza. Todos os demais dados (pais, marido, sogros e respectivas naturaldiades) confirmavam a sua identidade da Roza-Sara.
E mais um documento ajudou a terminar essa parte do quebra-cabeça: a informação inicial era de uma Roza Silveira do Prado, enquanto que eu estava com uma Roza Ribeyra. Todavia, o batizado de uma neta de Francisco e Roza desfez essa pequena confusão nos sobrenomes. No Maço de População de Mogi Mirim de 1767, além da família de Francisco da Costa Leme, encontrei registrada a família de Antonio da Costa Leme. Sobrenome interessante: anotei. Teria algum parentesco? Esse Antonio tinha 25 anos, vivia de suas lavouras, estava casado com Catharina Portes (então com 15 anos) e tinha dois filhos, Joze e Maria, ainda bebês. No livro de batizado de Mogi Mirim, no mesmo em que encontrei de 1753 até 1761 os filhos de Francisco da Costa Leme e Roza Ribeyra, encontrei em 3 de março de 1765 o batizado da bebezinha Maria, a filha de Antonio e Catharina que também aparecia no Maço de População. A mãe Catharina Portes era natural de Mogi Guaçu e era filha de Manuel Fernandes Preto (natural de Mogi das Cruzes) e Jozepha de Almeyda (natural de Sorocaba) - obs, o sobrenome Portes vem de uma avó, também chamada Catharina Portes del-Rei; e o pai da pequena Maria, o Antonio da Costa Leme, também natural de Mogi Guaçu e filho de Francisco da Costa Leme (natural de Pitangui) e Roza Ribeiro do Prado (natural de Piedade).
No batizado dessa Maria, Roza - a avó paterna da menina - apareceu pela segunda vez (para mim) com o sobrenome Prado. A segunda vez? Sim! No processo de dispensa matrimonial de Joze Manoel de Andrade em 1774, constava a mãe como "Roza Silveira do Prado", nome este que foi lido e interpretado da grafia que constava no documento. Não resta dúvida que aquele "Silveira" esgarranchado no processo era na verdade Ribeira, e que, a primeira vista, foi lida e entendida como Silveira... e eis que o genealogista também deve possuir bons conhecimentos sobre paleografia para compreender na "íntegra" esses registros antigos e ler corretamente a grafia evitando essas pequenas confusões.
Ainda ressalto que, casados em Mogi Guaçu, os primeiros filhos de Francisco e Roza nasceram e foram batizados lá mesmo, como é o caso dos filhos Antonio da Costa Leme e Joze Manoel de Andrade, e os demais filhos nascidos a partir de 1753 foram batizados na vizinha Mogi Mirim, para onde a família provavelmente passou a residir - e onde foi "recenseada" em 1767.
Um detalhe que ainda merece - e muito - ser compartilhado: há mais de um ano eu já havia pesquisado o livro de matrimônios de Mogi Guaçu, e já havia passado pelo casamento de Francisco e de "Sara" (Roza!). Na época, um dos sobrenomes que eu procurava era justamente o "Andrade" (qualquer nome que pudesse ser relacionado com Joze Manoel de Andrade). Costume da época: filhos que herdavam nomes de avós, padrinhos, ... ainda resta saber, de onde vem o Andrade que Joze Manoel passou a usar? Pais e avós já foram descobertos e em breve será possível rastrear a origem do Andrade. Por hora, é preciso avançar na árvore dos Costa Leme e dos Ribeiro do Prado.
* Atualização 30/01/2021: descobri que parte desta família é citada na obra Genealogia Paulista de Silva Leme.
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Eis a família:
Manoel da Costa Leme, natural de Taubaté, casado com Ana de Torres Alvarenga e "moradores que foram na Vila de Pitangui", são pais de Francisco da Costa Leme. Obs: Anna de Torres é assim mencionada nos batizados dos netos Gonçalo e Vicente (filhos de Francisco da Costa Leme com Roza Ribeyra do Prado) e Anna de Torres Alvarenga no Genealogia Paulistana. Anna é natural de Mogi das Cruzes, onde inclusive há uma família Torres de Alvarenga, mas ainda não descobri conexões.
Manoel João Ribeiro, natural de Mogi das Cruzes, casado com Thereza de Jesus, natural de Jacareí, são os pais de Roza Ribeyra do Prado.
Francisco da Costa Leme, nascido em Pitangui em 1720 (aprox.) casado em Mogi Guaçu aos 26 de novembro de 1739 com Roza Ribeyra do Prado (natural de Piedade - possivelmente Lorena) são os pais de:
1. Antonio da Costa Leme, n. Mogi Guaçu em 1742, casado com Catharina Portes e pai de Joze e Maria, sendo esta batizada em Mogi Mirim em 3 de março de 1765).
2. Anna do Prado de Quebedos, n. Mogi Guaçu em 1744 (aprox.), casada com Domingos Pires, filho de Paulo Pires Barbosa e de Anna Fernandes. Citados no Genealogia Paulistana. Filhos: Francisco, batizado em Mogi Mirim em 23 de dezembro de 1763, João Batista Pires (aprox. 1770) casado em Mogi Mirim por 1792 com Eufrazia Maria de Siqueira, e Domingos da Rocha Barbosa (aprox. 1771) casado em Mogi Mirim por 1789 com Maria de Sousa Leme.
3. João Leme, n. Mogi Guaçu em 1747 (aprox.).
4. Maria, n. Mogi Guaçu em 1750 (aprox.).
5. Joze Manoel de Andrade, n. Mogi Guaçu em 1751 (aprox.) casado em Ouro Fino no ano de 1774 com Brizida Ferreira de Mello... cuja descendência já registrei em uma postagem - ver o primeiro link desse texto sobre os Andrade).
6. Isabel, batizada em Mogi Mirim em 24 de fevereiro de 1753.
7. Barbara, batizada em Mogi Mirim em 15 de outubro de 1754.
8. Francisco da Costa Leme, batizado em Mogi Mirim em 8 de setembro de 1756, casado com Rosa Rodrigues do Prado e pai de ao menos um filhos: Miguel, batizado em Mogi Mirim em 25 de outubro de 1797.
9. Gonçalo, nascido em Mogi Mirim em 18 de março de 1759 e sendo batizado no dia 15 seguinte.
10. Vicente, nascido em Mogi Mirim em 15 de fevereiro de 1761 e sendo batizado no dia 18 seguinte.
11. Ignacio Francisco de Alvarenga, aprox 1764 em Mogi Mirim, onde se casou em 1786 com Ignacia Maria de Siqueira, citados no Genealogia Paulistana. Essa Ignacia Maria de Siqueira é irmã de Eufrazia Maria de Siqueira, mencionada acima como esposa de João Batista Pires, filho de Anna de Quebedos (irmã mais velha de Ignacio Francisco de Alvarenga).
Todos os registros utilizados nessa pesquisa genealógica, como Maços de População, matrimônios e batizados, foram transcritos e anexados na árvore do Family Search e estão disponíveis para consulta. No Genealogia Paulista ver, p. 377 do volume II: http://www.arvore.net.br/Paulistana/Lemes_4.htm
Pesquisa de Samuel Cassiano - historiador.