sábado, 30 de janeiro de 2021

Mato das Antas (Bueno Brandão) - a família de Manoel Ferreira de Mello e Apollonia Leme Correa

Manoel Ferreira de Mello era taubateano, nasceu por volta de 1707 (ano estimado). Existe uma família Ferreira de Mello em Taubaté de fins do século XVII e início do XVIII, mas não pude estabelecer nenhuma conexão devido a falta de documentos que informem a filiação de Manoel. Já na década de 1730 residia próximo de Conceição da Barra, uma capela filial da Igreja Matriz de São João del Rei, onde aparece casado com Leonor Moreira do Prado batizando dois filhos: Gertrudes em 11 de outubro de 1737 e Francisco em 22 de fevereiro de 1739. Em 1748 residia com esposa e filhos em Campanha, onde foi batizado em setembro daquele ano uma criança de nome Miguel, filho natural de Ventureza Carijó, natural de Taubaté. A madrinha foi Leonor Moreira do Prado, a esposa de Manoel Ferreira de Mello. No ano seguinte, em 20 de abril (de 1749) foi batizado Joaquim, o terceiro filho de Manoel e Leonor de que encontrei registro.

Em 4 de junho de 1752 faleceu Escolastica Carijó, viúva de Mathias Carijó, de idade de 50 anos e que era "administrada" de Manoel Ferreira de Mello. Por este fato, sei que a família de Manoel possuía indígenas para servi-los. A partir de 1753 e até o fim dessa década são batizados em Campanha filhas de Manoel Ferreira de Mello com sua segunda esposa, sendo a morte Leonor Moreira do Prado situada entre 1749 e 1752.

A segunda esposa de Manoel Ferreira de Mello foi Apollonia Leme Correa, que também é mencionada em outros registros como Apollonia de Siqueira Leme. Apollonia nasceu em Guaratinguetá, onde foi batizada em 26 de fevereiro de 1726 e era filha de Salvador Moreira de Castilho e Izabel de Arruda (de Arruda Cabral ou Izabel de Miranda). Encontrei a família de Apollonia e de outras irmãs nos catálogos do Family Search, sendo que eram parte da descendência desconhecida desse Salvador Moreira de Castilho, que inclusive ocupou o posto de juiz e capitão em Taubaté e foi mencionado algumas vezes como Sargento Mor. Incluí informações sobre esses descendentes de Salvador Moreira de Castilho nessa postagem: A descendência de Salvador Moreira de Castilho).

Salvador migrou após 1735 de Taubaté-Guaratinguetá para a região da capitania de Minas, onde casou a partir de 1736 filhas em Barbacena, onde residiram. Três filhas casaram-se com três irmãos portugueses de sobrenome Bitencourt e deixaram vários descendentes. Parte dos filhos de Salvador ficaram na região de Taubaté e Guaratinguetá. Na década de 1750, Salvador com a esposa Izabel e alguns filhos estabeleceram residência próxima de Campanha. Salvador acabou falecendo em Lambari, em 31 de agosto de 1757 como "pobre". Nesse ano, a filha Apollonia já era a esposa de Manoel Ferreira de Mello, residindo nessa localidade até 1759, quando a filha Brígida é a última a ser batizada na Igreja Matriz de Campanha. Na década de 1760 a família deslocou-se ao sul da capitania, seguindo o novo fluxo migratório que abandonava a região aurífera (em decadência) e buscavam por terras para lavouras e criação de animais cada vez mais ao sul da capitania. Nos registros paroquiais de Ouro Fino há várias menções à família de Manoel Ferreira de Mello e Apollonia Leme Correa desde 1777 como moradores no "Mato das Antas" ou "Bairro das Antas". Essa localidade das Antas era atendida espiritualmente pela Matriz de São Francisco de Paula de Ouro Fino até a construção de sua capela por volta de 1820-1840, recebendo novas denominações, como Campo Místico, até 1938, quando passou a ser Bueno Brandão.

Portanto, a família de Manoel Ferreira de Mello e Apollonia Leme Correa pode ser considerada como uma das primeiras habitantes de Bueno Brandão, quando o local não passava de um pequeno povoado com o nome de "Mato das Antas". Por dois registros, presumo que a família fosse pobre: no óbito de Manoel, consta que ele não deixou testamento por ser miserável e no testamento de Pedro Dias Pereira, o mesmo deixa um pequeno dote para a filha solteira de Manoel e Apollonia. Interessante pontuar que uma das netas foi esposa de Patrício José Joaquim de Miranda (que trouxe uma imagem de madeira do século XVII do Senhor Bom Jesus para a capela construída a partir de 1720).

Eis a família de Manoel e Apollonia:

Manoel Ferreira de Mello, natural de Taubaté (embora um único registro divirja e indique ser natural de São João del Rei, e outro indique Aiuruoca, o mais provável é que fosse taubateano, como atestam todos os demais registros), casado com Leonor Moreira do Prado (falecida por 1752). Manoel faleceu no em 28 de dezembro de 1787, na idade de 80 anos, sendo morador no "bairro das Antas" e "não fez testamento por ser miserável". Foi sepultado no adro da Matriz de Ouro Fino no dia seguinte. O registro do óbito apresenta o ano como sendo 1788, porém, foi um erro do pároco. É possível perceber na sequência das páginas do livro de óbitos que os meses anteriores são de 1787 e em seguida passam para janeiro de 1788. Não descobri sua ascendência, embora tenha identificado uma família Ferra de Mello natural de Taubaté e residentes também em São João del Rei.

Foi casado pela segunda vez com Apollonia Leme Correa (ou Apollonia de Siqueira Leme), batizada em Guaratinguetá em 26 de fevereiro de 1726, filha de Salvador Moreira de Castilho e Izabel de Arruda (Izabel de Miranda) e falecida em 24 de outubro de 1803 e sepultada na Matriz de Ouro Fino.

Filhos:

1. Antonia, batizada em Campanha em 24 de abril de 1753. 

2. Rita Maria Antonia de Castilho, batizada em Campanha em 9 de junho de 1754. Faleceu em 10 de novembro de 1793 no bairro das Antas e foi sepultada na Matriz de Ouro Fino. Foi casada com Joaquim Alves Antunes, que, depois de viúvo, casou-se em Campanha 12 de julho de 1800 com Maria Antonia da Cruz. Observação: é provável que o nome de Rita fosse apenas Rita Maria (ou Rita Maria de Castilho). A Inclusão do nome Antonia aparece no registro do segundo casamento de Joaquim Alves Antunes, cuja nova esposa tinha o nome de Maria Antonia.

3. Escolastica Maria de Castilho, batizada em Campanha em 15 de fevereiro de 1757. Casada na Matriz de Ouro Fino em 30 de julho de 1780 com Florianno da Silva, natural de Atibaia e filho de Angelo e Antonia da Silva.

4. Brigida Ferreira de Mello, batizada em Campanha em 26 de julho de 1759. Faleceu no Bairro de Mogy, na freguesia de Ouro Fino em 15 de setembro de 1814. Casada em 1774 (processo de dispensa no arquivo da diocese de Pouso Alegre) com Joze Manoel de Andrade, natural de Mogi Guaçu, filho de Francisco da Costa Leme e Roza Ribeyra do Prado. Deixaram vários descendentes em Outro Fino, Caldas, São João da Boa Vista e Casa Branca. Em duas postagens apresento sobre a família de Joze Manoel de Andrade e seus descendentes: De Costa Leme para Andrade: um pulo! e Genealogia e trajetória da família Andrade (1752-1902)

5. Ignacio Alves Ferreira, nasceu provavelmente no bairro das Antas, uma vez que depois de Brigida, não encontramos mais registros de batizados de filhos de Manoel e Apollonia em Campanha. Ele é citado como testemunha no casamento de sua irmã Anna Moreira de Castilho, no casamento de Bento Manuel e Maria Joaquina do Espírito Santo e como padrinho juntamente com sua mãe Apollonia no batizado de João, filho de Ignacio Pereira Cardoso e Anna Maria de Morais, respectivamente em 1777, 1783 e 1797, todos na Matriz de Ouro Fino. Não identifiquei esposa ou filhos de Ignacio.

6. Manoel Ferreira de Mello (homônimo de seu pai). Natural de Ouro Fino, aprox. 1761, provavelmente nasceu no bairro das Antas. Foi casado com Maria Joaquina da Conceipção. Foram pais de: Anna, batizada na Matriz de Ouro Fino em 25 de setembro de 1791; Candido Ferreira de Mello, nasceu no bairro Boa Vereda, batizada na Matriz de Ouro Fino em 22 de setembro de 1793, onde também se casou em 19 de novembro de 1819 com sua prima Joanna Roza de Jesus e pais de Francisca, nascida em Ouro Fino 27 de junho de 1818; Antonio, batizado em Ouro Fino em 26 de julho de 1795; Joze Ferreira de Andrade, batizado em Ouro Fino em 12 de abril de 1801 e casado em Bragança Paulista em 11 de dezembro de 1821 com Caterina Pires Cardozo; Lucianno Ferreira de Andrade, batizado em Ouro Fino em 27 de dezembro de 1803, casado em Caldas em 10 de abril de 1826 com Anna Ignacia de São Joze e com ao menos cinco filhos nascidos e batizados também em Caldas, dentre eles Maria Luciana de Jesus, que foi batizada em 15 de maio de 1836 e se casou em São João da Boa Vista em 2 de fevereiro de 1847 com João Theodoro de Oliveira; Ignacio, que nasceu no bairro das Antas em 9 de novembro de 1807 e foi batizado na Matriz de Ouro Fino em 9 de dezembro de 1807; Francisco de Paula Mathosinhos, natural de Ouro Fino, casado em Bragança Paulista em 16 de outubro de 1821 com Izabel Maria de Jesus, tendo dois filhos batizados em Bragança Paulista: Eliodoro Alves de Oliveira e Maria Joaquina.

7. Anna Moreira de Castilho, não pude identificar a data do nascimento, mas é provável que seja na década de 1760. O registro de seu casamento diz que era natural de Campanha e o último filho que localizei, nasceu ao redor de 1811. Recuando a idade fértil de Anna, poderia ela ter nascido entre 1764 e 1765, data combinada com a idade mínima que deveria ter ao se casar em 4 de fevereiro de 1777 com Antonio Gonçalves da Cruz, em Ouro Fino. Antonio era natural de Santana da Parnaíba e filho de Manoel Gonçalves da Cruz e de Escolastica Pedroso Ribeiro. Faleceu com 35 anos "mais ou menos" em 10 de setembro de 1784. Desse casamento encontrei a filha Anna de Castilho (nasceu por 1780) e que foi madrinha em 26 de julho de 1795 no batizado de Antonio, citado acima, filho de Manoel Ferreira de Mello e Maria Joaquina da Conceipção; em 18 de junho de 1797, Anna também foi madrinha em um batizado. Anna Moreira de Castilho casou-se novamente em 1794, com Januário Alves Antunes, filho de João Rodrigues Antunes e Pascoa Maria da Conceição. Anna Moreira de Castilho e Januário Alves Antunes foram pais de: Izabel Moreira, batizada em Ouro Fino em 8 de março de 1796, onde se casou em 21 de junho de 1810 com Marianno de Britto; Ritta, nasceu no Mato das Antas em 27 de maio de 1798 e batizada na Matriz de Ouro Fino em 21 de julho de 1798; João Moreira, nasceu por 1800 e faleceu em 28 de maio de 1828 no bairro das Antas, sepultado no cemitério das Antas; Francisco, batizado em 4 de junho de 1804, em Ouro Fino; Joze, nasceu em 12 de novembro de 1811 e foi batizado em Ouro Fino em 12 de janeiro de 1812.

8. Leonor Ferreira de Castilho, nasceu por volta de 1765, natural de Ouro Fino, portanto, provavelmente os pais já residiam no Mato das Antas, faleceu em 18 de julho de 1818, em Bueno Brandão, sendo sepultada no cemitério dos ciganos. Leonor Ferreira de Castilho é mencionada em outros registro como Leonor Ferreira de Mello e Leonor da Costa, sendo que o nome tem a variação de Eleonor em alguns registros. Casada na Matriz de Ouro Fino em 19 de dezembro de 1781 com Jose Alves Antunes, irmão de Januário Alves Antunes citado acima como segundo marido de Anna Moreira de Castilho. Filhos: Anna Jacinta da Conceição, batizada na Matriz de Ouro Fino em 13 de maio de 1790 e casada em 1807 com Patricio Joze Joaquim (Patrício Jose Joaquim de Miranda), sendo que ainda não localizei descendentes deste casamento; Joze, batizado na Matriz de Ouro Fino em 22 de outubro de 1793, sendo moradores nas "Antas"; Joanna Roza de Jesus, nascida nas Antas e batizada em 7 de dezembro de 1795 na Matriz de Ouro Fino, onde também se casou em 19 de novembro de 1817 com seu primo Candido Ferreira de Mello, citado acimo, filho de Manoel Ferreira de Mello (Filho) e Maria Joaquina da Conceipção; Maria, batizada na mesma matriz que os irmãos em 31 de maio de 1803.

9. Luiza Maria da Conceição, nasceu em 1766, em Ouro Fino, provavelmente no bairro das Antas. Pedro Dias Pereira, falecido em Ouro Fino em 15 de março de 1789, deixou em testamento feito em 12 de junho de 1788 a quantia de "vinte oitavos" para "Luzia filha de Manuel Ferreira de Mello ja defunto". Dado o fato de que Manoel Ferreira de Mello faleceu como miserável em dezembro de 1787, Pedro Dias Pereira deixou essa quantia para Luzia, ainda solteira, como uma espécie de dote. Luzia Maria da Conceição casou-se por 1789 com Antonio Nunes de Carvalho e faleceu na idade de 25 anos, no bairro das Antas em 30 de agosto de 1791, sendo sepultada no dia seguinte na Matriz de Ouro Fino. É provável também, que Luzia tenha falecido de complicações após o parto. Encontrei apenas uma única filha de Luzia com Antonio Nunes de Carvalho: Ignacia Maria da Conceição, nascida em 10 de agosto de 1791 e batizada no dia 20 seguinte, pouco antes da mãe falecer. Ignacia casou-se em Caldas em 3 de novembro de 1817 com Antonio Joze da Silva.


Pesquisa de Samuel Cassiano - historiador.

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